As origens desta festa perdem-se nos tempos, diz a memória popular que aquando das invasões francesas, o povo de Vila Grande avistou os soldados a passar numa estrada, perto das aldeias do Couto de Dornelas e sabendo que por onde passavam, saqueavam tudo, imploraram a protecção divina. Pegaram na imagem de S. Sebastião, saíram com ele à rua, levaram-no até à torre da igreja e prometeram ao santo que todos os anos realizariam uma festa em sua honra se as tropas não descessem até às aldeias. Eis que o milagre se deu, as tropas seguiram e o povo, agradecido, cumpriu a promessa.
a festa ou mesinha de S. Sebastião realiza-se todos os anos no dia 20 de janeiro na aldeia de Vila grande.
Dada a dimensão desta festa, tudo tem que ser preparado com muita antecedência. Por altura do Natal, os mordomos andam pelas casas das aldeias da freguesia a recolher os cereais (centeio e milho) para fazer as broas. Em janeiro, recolhem os restantes donativos. Carne de porco (essencialmente peito e queixadas) e dinheiro para comprar o arroz. Também é recolhida a lenha para cozerem os alimentos.
A comida é confeccionada na “Casa do Santo”, construída para o efeito. Tem uma cozinha com uma lareira, um forno grande e uma sala para armazenar as broas. Durante cerca de cinco dias e cinco noites são cozidas as centenas de broas que vão ser distribuídas ou vendidas no decorrer da festa.
é uma das maiores festas de cariz comunitário do concelho de Boticas.
No dia 19 à meia-noite acendem o lume na lareira da “Casa do Santo”, à volta do qual dispõem mais de 20 potes de ferro com a carne partida aos bocados, a cozer.
No dia 20, assim que toca o sino para a missa, colocam-se os potes com o arroz a cozer e finda a missa, o povo segue em procissão com o santo até à “Casa do Santo”, onde o padre procede à bênção do pão, da carne e do arroz. Pode então iniciar-se a distribuição da comida, numa mesa com centenas de metros, na principal rua da aldeia.
Tiago Rodrigues
Natural de Lisboa, trocou a capital por uma aldeia no Barroso, onde tem desenvolvido projetos com várias instituições locais. É designer gráfico e editor de arte na UMinho Editora. Fundou em 2017 o Terra Callaeci, projeto dedicado à divulgação da paisagem cultural transmontana, enquanto construção dos povos que nela habitaram (e habitam).