No espaço correspondente ao atual concelho de Boticas, criado no âmbito da reforma administrativo-territorial de 1836, documenta-se arqueologicamente uma densa ocupação associável à Idade do Ferro, materializada em 21 povoados fortificados, todos com vestígios de muralhas, ruínas de edificações nas plataformas interiores e espólio cerâmico. Alguns serão de fundação anterior, talvez da Idade do Bronze, como evidenciam algumas cerâmicas manuais e o achado de peças de bronze (Castro do Brejo), e outros que conheceram uma ocupação que parece ter-se prolongado até ao tempo do domínio Suevo-Visigótico.
Embora se dispersem por quase todo o território do atual DO concelho, a análise atenta da sua distribuição revela dois conjuntos distintos.
Embora se dispersem por quase todo o território do atual concelho de Boticas, a análise atenta da sua distribuição revela dois conjuntos distintos: um na zona Norte e Este, vinculado à bacia inicial do rio Terva, e outro na zona central e ocidental, na bacia do rio Beça.
O primeiro conjunto integra onze povoados, de diferentes tamanhos mas genericamente implantados em outeiros da vertente alta ou promontórios de vertente baixa; nove deles não distam, cada um, mais de 4 km em relação ao mais próximo; quatro destes alinham-se na margem direita do rio, no sopé da vertente oriental do maciço do Leiranco, no curto espaço de 5 km.
O segundo conjunto é formado por dez povoados, também de diferentes tamanhos, dispersos por uma maior área e mais distantes entre si, apresentando soluções de implantação diversificadas, ora expostos nos cumes, como o povoado do Côto dos Corvos, ora resguardados no fundo de vales cavados, em esporões sobranceiros às linhas de água, como os de Ervas Ruivas ou do Poio.
A concentração de povoados fortificados nos primeiros 10 km do curso do rio Terva é notável. Para além das condições mais favoráveis, admite-se que a instalação de populações neste troço inicial da bacia se relacione especialmente com a exploração mineira do Poço das Freitas e das Batocas.
Em alguns dos povoados do segundo conjunto também se identificam vestígios de atividade metalúrgica e regista-se a existência de zonas de mineração.
Alguns dos povoados conservam restos construtivos com uma monumentalidade pouco frequente.
Tanto no primeiro conjunto como no segundo, alguns dos povoados conservam restos construtivos com uma monumentalidade pouco frequente neste tipo de sítios arqueológicos. Pelo seu tamanho, pela imponência das muralhas que conservam e pelo seu posicionamento geo-estratégico, destacam-se os ‘castros’ de Muro de Cunhas, de Carvalhelhos e de Lavradas, de Giestosa, de Cabeço e, entre todos, os imponentes povoados fortificados de Nogueira e do Lesenho.
Dominando as principais vias naturais de comunicação e abrangendo nas suas envolventes as férteis veigas e alvéolos das bacias dos rios Terva e Beça, alguns destes povoados terão sido lugares centrais no quadro do povoamento proto-histórico da região, para a qual se referenciam vários populi indígenas. Um desses lugares centrais era, inequivocamente, o povoado do Lesenho, de onde provêm quatro estátuas de guerreiros galaico-romanos.
Os povoados fortificados de Boticas constituem um conjunto de elevado valor patrimonial e de grande interesse científico, oferecendo amplas possibilidades de valorização. A sua proteção, conservação e valorização têm constituído uma prioridade do município, designadamente através da integração de alguns deles na Rede de Castros do Noroeste, como acontece com o Castro de Lesenho e de Sapelos, este último ainda em apreciação.