Os Fornos do Povo

Boticas

Existem atualmente trinta e seis fornos do povo repartidos por trinta e cinco aldeias, ainda em funcionamento. Todas as freguesias do concelho, exceto Boticas, possuem pelo menos um forno do povo. Estes edifícios encontram-se geralmente afastados do centro da aldeia, muitas vezes isolados, e sem casas à volta, como forma de prevenção contra possíveis incêndios que aí pudessem ter origem.

Forno do Povo de Covas do Barroso. Foto TR/TC

Em alguns fornos AS FORNALHAS FORAM DIVIDIDAS EM DUAS MAIS PEQUENAS PARA CONSUMIR MENOS LENHA.

No passado apenas existiam fornos particulares, quem queria cozer e não tinha forno, pedia a quem tivesse para deixar cozer. Apesar dos proprietários não exigirem pagamento pelo uso, quem pedia ficava sempre em favor e tinha a obrigação moral de pagar de alguma forma. O pagamento era feito, geralmente, em dias de trabalho, ajudando nas segadas e malhadas. 

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Forno do Povo de Ardãos. Foto TR/TC

Quando quase todas as casas das aldeias coziam no forno do povo, foram estabelecidas regras de forma a organizar a sua utilização. Em quase todas as aldeias do concelho, onde este bem comunitário existia, havia a obrigação de “quentar” o forno (aquecer o forno), que andava à roda pelas casas dos lavradores da aldeia com meios para ir buscar lenha. Como, por exemplo, acontecia em Alturas do Barroso, “Todo aquele que tivesse uma junta de vacas para fazer o transporte da lenha, para aquecer o forno, era obrigado pelo uso e costume a aquecer o forno”. Era chamado o “quentador”, e era ele também, o responsável pela marcação da vez das pessoas que coziam a seguir a ele.

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Preparação da massa do folar para a Festa de S. Brás de Beça. Foto TR/TC

Em Vilarinho Seco este uso ainda vigora. De quinze em quinze dias, um lavrador, ou seja, quem tem vacas ou trator, aquece o forno, num sistema de rotatividade pelas casas da aldeia. Antigamente essa obrigação demorava cerca de um ano a dar a volta à aldeia, atualmente demora aproximadamente oito meses, porque apesar de existirem cerca de trinta casas habitadas na aldeia, apenas quinze aquecem o forno.

QUANDO VÁRIAS PESSOAS COZEM AO MESMO TEMPO, SÃO COLOCADAS MARCAS NA MASSA para que não se troquem OS PÃES.

Além de cozer o pão, os fornos do povo são também utilizados por ocasião de festas, para fazer os assados, como em Valdegas, onde por altura da festa do Divino Espírito Santo, as pessoas colocam no forno a carne para assar, vão à missa e depois da procissão, passam pelo forno para levar a respetiva travessa para o almoço.

Sempre que o forno coze os vizinhos ainda se juntam lá para conversar, esta é, aliás, uma das caraterísticas dos fornos do povo, o convívio, tradição que ainda hoje se mantém.

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FONTE Câmara Municipal de Boticas 2006, "Preservação dos Hábitos Comunitários nas Aldeias do Concelho de Boticas", Boticas.